9 de out. de 2012

Boa reportagem sobre o ex-nadador Edvaldo Valério

Fonte: globo.com
Com uma ajudinha do nosso parceiro d'água dingsports


Lembra dele? Longe das piscinas, Edvaldo Valério tenta fortalecer natação.

Primeiro nadador negro brasileiro a ganhar medalha nas Olimpíadas lembra começo da carreira e diz lutar para a melhoria da natação na Bahia.


Por Raphael CarneiroSalvador



Olimpíadas de Sydney, ano 2000, o revezamento brasileiro dos 4x100m livre estava  na final da prova. E prestes a fazer história. Ao lado de Fernando Scherer, o Xuxa, Gustavo Borges e Carlos Jayme, estava Edvaldo Valério. O baiano foi o primeiro nadador brasileiro negro a participar dos Jogos Olímpicos. E não estava ali para ser um mero coadjuvante. Nem ele, nem o Brasil. O bronze era um sonho e, após os três primeiros companheiros caírem na água, Valério recebeu o revezamento embolado na quinta colocação. Foram 49s12 para a glória. Com o segundo melhor tempo do time brasileiro – Gustavo Borges fez 48s61 – o baiano se superou e levou a equipe brasileira ao pódio com a medalha de bronze. A batida na borda poderia ser apenas mais uma na vida. Mas foi a que transformou a história dele.
Edvaldo Valério só era chamado pelo nome de batismo pelos desconhecidos. As façanhas nas piscinas na Bahia e, muitas vezes, no Brasil, lhe renderam o apelido de “Bala”. A reação e recuperação na piscina de Sydney fizeram com que o Brasil e o mundo entendessem o motivo de um nadador baiano ter sempre o aposto na sequência do nome: Edvaldo Valério, o Bala.
Doze anos após a conquista olímpica, Valério não se esquece daqueles momentos. E nem teria como. Além da emoção do feito inédito – ele foi o primeiro nadador negro do Brasil a ganhar uma medalha nas Olimpíadas –, o atleta não se cansa de rever o vídeo da prova. A narração de Galvão Bueno o emociona até hoje.
- Tem a possibilidade, o Brasil do bronze, tem a possibilidade... Vem a medalha, vamos Bala, vem a medalha... É Brasil, é Brasil, é Brasil! Edvaldo Valério! A festa é brasileira! O baiano Bala garantiu o bronze! É a primeira medalha do Brasil nas Olimpíadas 2000. Xuxa, Borges, Carlos Jayme e Edvaldo Valério, mais Bala do que nunca! – disse o narrador da TV Globo.
Após bronze no peito, mudança de rumo
Apesar do feito, Valério sofreu para se manter no primeiro escalão da natação brasileira. O baiano ainda nadou por mais nove anos, mas sem o apoio necessário. A falta de reconhecimento fez com que passasse os últimos quatro anos da carreira longe de Salvador. Foram duas temporadas em Minas Gerais e outras duas no Rio Grande do Sul.
A peregrinação não rendeu os efeitos esperados. A velocidade foi diminuindo com o tempo. A idade pesou, e o baiano teve que optar por mudar a direção da bússola e pensar no futuro. Depois de algumas transferências, Valério decidiu se dedicar ao término do curso superior. Há quase seis anos estudando Educação Física, ele se prepara para o último semestre.
- Eu ganhei a medalha em 2000 e, na metade de 2001, já tinha perdido quase todos os patrocinadores. Quando eu resolvi parar, foi justamente em função disso. Morei os quatro últimos anos fora e, quando voltei para Salvador, foi decidido a parar, porque eu não iria ficar batendo de porta em porta pedindo patrocinador. Então preferi abandonar a natação e dar seguimento aos meus estudos – lembra.
Eu ganhei a medalha em 2000 e, na metade de 2001, eu já tinha perdido quase todos os patrocinadores"
Edvaldo Valério
A aposentadoria, definida em 2009, por pouco não aconteceu 15 anos antes. Aos 16 anos, Valério tinha uma rotina desgastante para manter a fama de bala nas piscinas baianas. Morador de Itapuã, ele acordava de madrugada para treinar na piscina da Fonte Nova. O trajeto de quase 25 quilômetros era feito de ônibus. Da piscina, seguia para a escola e, em seguida, voltava para casa. Pela tarde, nova viagem para mais um treinamento no Clube Olímpico de Natação.
Na adolescência, o nadador se cansou do compromisso diário. Decidiu parar. Só foi demovido da ideia após muita insistência do pai. A solução para continuar como promessa das águas foi mudar o local do treinamento. Valério deixou o Clube Olímpico e passou a nadar pelo Costa Verde Tênis Clube, bem mais próximo de onde morava na época.
Nova piscina e novos efeitos. Valério começou a dar resultados mais expressivos e cativou os companheiros de clube. Sem apoio de patrocinadores, o nadador contava com as rifas e colaborações dos pais de colegas de piscina para pagar as viagens. 

Ciente do apoio que recebeu nos momentos cruciais de sua carreira, Edvaldo Valério faz questão de agradecer a todos pelo companheirismo e incentivo. Na visão dele, o bronze em Sydney carrega um pedaço de todos. Uma forma de esquecer as travessuras aprontadas e retribuir o carinho - desde os que vivem na mesma casa ao afeto recebido por desconhecidos.
Cobrança por melhores condições
Mesmo tanto tempo depois de seu auge, Valério não vê mudanças positivas no esporte olímpico brasileiro. Tampouco no baiano. Para ele, a falta de apoio continua como a principal dificuldade daqueles que sonham em trilhar o mesmo caminho do nadador.
- Nós vivemos no esporte amador. E é amador para muita coisa. É amador para patrocínio, é amador para estrutura, é amador para incentivo. A gente realmente tem que tirar o chapéu para quem, diante dessas dificuldades, consegue alcançar resultados expressivos. A gente fica só um pouco triste pela cobrança que é feita diante daquilo que é investido. Aqui em Salvador, por exemplo, não tem uma piscina olímpica. E aí, você vai cobrar resultado expressivo a nível mundial? Não tem como. Você não tem um ginásio poliesportivo adequado para praticar um vôlei, um basquete, um futsal. Como cobrar resultado desses esportes? A realidade do esporte baiano é cruel – lamenta.
Diante do cenário que classificou como terrível, até mesmo em forma de perspectiva para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o medalhista olímpico pensou em mudar de lado. Neste ano, Edvaldo Valério chegou a lançar candidatura a vereador em Salvador. Segundo ele, a decisão de entrar na política tinha o objetivo de tentar mudar a falta de apoio que os esportes recebem no estado. No entanto, a candidatura foi retirada.
Dever cumprido
Aos 34 anos de idade e três anos depois de deixar as piscinas, Valério conta que não consegue nadar mais do que 500 metros. O problema não seria resistência ou qualquer outra questão física. Mas concentração. Com uma vida dedicada ao esporte, ele diz que não consegue ter o mesmo ânimo para dar as braçadas.
Aqui em Salvador, por exemplo, não tem uma piscina olímpica. E aí, você vai cobrar resultado expressivo a nível mundial? Não tem como".
Edvaldo Valério
Longe dos treinos, Valério pratica o que aprende no curso de Educação Física em um projeto social do grupo AraKetu. No Subúrbio Ferroviário de Salvador, ele dá aulas para mais de 700 crianças carentes.
- Tudo valeu a pena. Eu comecei a nadar com três anos de idade e parei com 32 anos. Nadei por quase 30 anos de minha vida. Tudo o que eu fiz valeu a pena. Eu, graças à natação, tive ótimos amigos que perduram até hoje. Conheço quase o Brasil todo, conheço praticamente o mundo inteiro, tenho um título que nenhum outro nadador baiano tem, então, sou referência na natação – afirma com um sorriso de satisfação no rosto.
Sou mais água!!! Uno somos e tudo soma no mais!!

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